Paginário

Nossa ideia enfrenta uma situação que é raiz de desrespeitos: a forma como espaço público trata o cidadão e como o cidadão trata espaço público. Nas ruas, olhamos e lemos o tempo inteiro. Mas o quê? Placas de localização, informações de ônibus, nomes de lojas e banners publicitários. Ora, somos muito mais do que pessoas que querem se locomover e comprar coisas. As pessoas – moradores de rua ainda mais – não se sentem contempladas, reconhecidas e participantes. Intervenções urbanas podem ser usadas em prol de melhores relações entre rua e cidadão, para que a rua seja não só local de passagem como também de “paragem”. Nossa proposta são murais em locais públicos com cópias das páginas preferidas dos livros preferidos das pessoas. Isso pode ser reproduzido em qualquer local e trata-se de transformação duradoura. Seu custo de reprodução: cola, rolos, tinta de impressão, fotocopiadora, além de tempo. O projeto que criamos a partir desta ideia é o Paginário. Realizamos murais com designs específicos e também encontros e workshops, onde conversamos, preparamos e montamos murais com as pessoas de cada local. Para o Paginário, com encontro, projeto, preparação e montagem, é requerido financiamento. A ideia é replicável. A intervenção torna-se um legado. A rua deixa de ser local apenas funcional, e vira local de prazer, surpresa positiva e conhecimento, e mais: elemento de formação e participação. Criamos vínculos entre pessoas e lugares. Um mural é um local de trocas entre quem escolhe as páginas, quem monta o mural e quem passa por ele. Aquele muro relegado a paisagem esquecida é renovado, torna-se rico ponto de encontro, afeto e cuidado. Nele, diferenças convivem. Culturalmente, as pessoas ganham nova oferta; socialmente, adquirem senso de comunidade e reconhecem o seu próprio valor – estampado nas páginas –, estabelecendo uma nova relação com vizinhos e espaço público.

Leonardo Villa-Forte é escritor, artista, pesquisador e colaborador editorial. Autor dos livros “O princípio de ver histórias em todo lugar” (editora Oito e Meio, 2015), “O explicador” (editora Oito e Meio, 2014) e “Agenda” (editora 7Letras, 2015). Criou a série de colagens MixLit – O DJ da Literatura – com repercussão nacional e internacional. Tem contos publicados em revistas e antologias no Brasil e traduzidos para revistas na Inglaterra, como Litro e Modern Poetry in Translation. Participou de exposições como Feira Plana, 3a Bienal de Arte da Bahia, FILE – Festival Internacional de Linguagem Eletrônica. Realiza oficinas de literatura. Participou de FLIP, FLUPP, Festivais de Inverno do SESC. Idealizou o Paginário, e com seus parceiros, realizou-o a convite de instituições como FUNARTE, SESC (Petrópolis, Três Rios, Cuiabá), Instituto Moreira Salles, Festival de Arte do Leblon, Observatório das Favelas, FUNCEB (Salvador), Imperator e outros, além dos independentes. Graduado em Psicologia pela UFRJ. Mestre em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-RJ.

Rodrigo Lopes é produtor, montador, artista e fazedor. Iniciou parceria com Leonardo em 2011, quando articularam a exposição “Escritor de Parede” no saguão do Teatro Glauce Rocha, no Centro/RJ, espaço que Lopes gerenciava como membro do projeto Junto: Práticas de Proximidade. Como produtor, tem longa parceria com o coletivo Brecha, estando à frente do gerenciamento de dois teatros federais, o Teatro Glauce Rocha (FUNARTE/Rio de Janeiro) e o Teatro Plínio Marcos (FUNARTE/Brasília), além de estreias, circulações e turnês de diversos espetáculos, performances e intervenções urbanas. Como montador, destacam-se a montagem de duas exposições de inauguração de museus: “A Potência do Objeto” (CRAB/Rio de Janeiro/2014) e a exposição permanente do Museu de Congonhas (UNESCO/Congonhas do Campo-MG/2015).


Aryana Almeida é bacharel em Letras pela UERJ, professora de literatura e ex-livreira da Livraria da Travessa. É produtora cultural e realiza curadoria de leitura par